Contaminada: polímeros canibais, de Raquel Nava, e A memória de uma pode ser a memória de muitas, de Alessandra França
- Rodrigo Carvalho
- 18 de nov. de 2024
- 7 min de leitura

Duas exposições individuais de mulheres artistas abrem simultaneamente no dia 23 de novembro, às 17h, na Referência Galeria de Arte. Na Sala Principal, Raquel Nava apresenta “Contaminada: polímeros canibais”, com texto de André Torres. Nas pinturas, instalações e fotografia, a artista visual mostra sua mais recente produção, que transita entre o biológico e o sintético. Na Sala Acervo, Alessandra França em sua primeira exposição individual, apresenta “A memória de uma pode ser a memória de muitas “, com curadoria de Ioana Mello. Partindo do registro fotográfico, a artista acessa memórias reais e imaginadas para construir fabulações acerca daquilo que nos une como coletividade e que nos faz indivíduos únicos. As mostras marcam os 29 anos da Referência Galeria de Arte e sua trajetória como uma das principais plataformas de apresentação e impulsionamento na carreira de artistas visuais brasileiros.
Em exibição até o dia 11 de janeiro de 2025, as mostras podem ser visitadas de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 13h. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos. A Referência Galeria de Arte fica na 202 Norte, Bloco B Loja 11, Subsolo, Asa Norte, Brasília DF. Telefone (61) 3963-3501 e Wpp (55 61) 98162-3111. No Instagram @referenciagaleria.
Contaminada: polímeros canibais
De | Raquel Nava
Texto | André Torres
Sala Principal | Referência Galeria de Arte
Raquel Nava investiga o ciclo da matéria orgânica e inorgânica, o natural e o artificial. A diversidade de sua produção está nos experimentos com técnicas e materiais. Em seus trabalhos, sejam pinturas, instalações ou fotografias, Raquel usa a taxidermia e os restos biológicos de animais justapostos a materiais industrializados. Esta é a primeira vez que a artista utiliza essa técnica na pintura. “Na fotografia já havia usado taxidermia e crânios de bichos justapostos a materiais industrializados”.
Por mais de uma década, Raquel frequentou o laboratório de Ciências Biológicas e o Museu de Anatomia da Universidade de Brasília, onde aprendeu a taxidermizar animais mortos. “Não associo a taxidermia a morte de forma tão direta como grande parte do público costuma fazer. Um frango assado ou um bife, também é um bicho morto no nosso prato. Um misto quente tb tem bicho morto. Um presunto, um defunto”, diz.
Entre os trabalhos desenvolvidos para a exposição, uma instalação faz referência à sua pesquisa com o presunto, uma peça em silicone tingido de rosa mediante o uso de corante a base de cochonilha, insetos considerados pragas para as lavouras. “A peça de presunto enquanto objeto de pesquisa, como uma escultura social, que pode indicar formas de consumo e estéticas na maneira de apresentar a morte”, completa a artista.
Muitos dos trabalhos feitos sobre telas antigas expressam o caráter processual das investigações da artista que, mais do que respostas, propõem questionamentos sobre o fazer pictórico, levando o público a duvidar da natureza daquilo que se apresenta diante de seus olhos. Nava também apresenta duas instalações inéditas, uma da série Apresuntados, na qual a forma de presuntos repete-se com diferentes superfícies cromáticas, e a segunda composta por uma capivara taxidermizada.
Segundo o crítico André Torres, responsável pelo texto que acompanha a exposição, os trabalhos de Raquel Nava são motores do estranhamento. Qualquer traço de familiaridade encontrado neles é mais da ordem da projeção, do que do reconhecimento, denunciando o nosso desejo de rastrear, categorizar, mapear e classificar as formas. A materialidade pungente de seus trabalhos se sobrepõe à forma, levando-nos a vagar entre o fascínio e a abjeção, reafirmando, por fim, o interesse radical da artista pela experimentação.
Sobre a artista
Raquel Nava é bacharel em Artes Visuais (2007) e mestre na linha de pesquisa Poéticas Contemporâneas (Capes 2010-12) pela Universidade de Brasília. Foi aluna da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires/UBA (2005). Trabalhou como tutora à distância e professora supervisora em Licenciatura em Artes Visuais na Universidade Aberta do Brasil-UAB/UnB (2010-17) e como professora temporária no Departamento de Artes Visuais/UnB (2021-23), onde atualmente é doutoranda. Premiada no 19º Salão Anapolino de Arte e no Transborda Brasília, 2018, participou do 66º Salão Paranaense, do 29° Programa de exposições do CCSP e foi finalista no 7º Prêmio Indústria Nacional Marcantônio Vilaça. Foi contemplada pelo Fundo de Apoio à Cultura para Projetos Artísticos e Culturais do DF em 2017 pela pesquisa “Taxidermia Contemporânea: transformações e apropriações” e em 2021 pela pesquisa “Estomacais: corpos fragmentados e idéias má digeridas”. Foi indicada ao Prêmio PIPA 2018 e participou da comissão de indicação do Prêmio PIPA 2024.
Sobre o crítico
André Torres é escritor e crítico de arte. Mestre em Linguagens Visuais e Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade, colabora com textos para revistas como DASartes e Select-Celeste.
A memória de uma pode ser a memória de muitas
De | Alessandra França
Curadoria | Ioana Mello
Sala Acervo | Referência Galeria de Arte
“Em um equilíbrio de força e vulnerabilidade, suas costuras de recordações - visuais, sonoras e táteis - são uma janela para nós mesmos”.
Ioana Mello, curadora
Tendo a fotografia como pano de fundo para a construção de narrativas e fabulações, a produção de Alessandra França, atualmente, parte de uma série de histórias, memórias vividas e imaginadas, criando um espaço de intersecção entre realidade e fantasia. As fotografias autorais recebem intervenções com bordados, colagens e materiais reutilizáveis. Em seu texto sobre a produção de Alessandra França, a curadora Ioana Mello ressalta que: “A formação, a transmissão e o compartilhamento das memórias individuais e coletivas são fundamentais para a compreensão das nossas narrativas presentes. Como cada memória vivida nos afeta e nos faz ser quem somos hoje? Como ela nos conecta, aos outros e à nossa ancestralidade?”
A mostra apresenta duas séries. A primeira, – “Relicário das memórias que me contaram...” -, em que a artista coletou em sua fonte de pesquisas e a dividiu em quatro capítulos. “Experiências imaginadas”, “Pequenas histórias que me contei”, “Minhas saudades passam pelos rios...” e o “Mundo em mim”.
Sobre a segunda série, “Des-nu-dar”, a artista afirma tratar-se de contar a sua própria história. A narrativa dos trabalhos mistura uma “costura” dessas histórias, criam novos significados e reinterpretam o passado ou a reutilização das memórias. “Neles, me utilizo da assemblage, uma técnica que permite criar obras únicas e complexas, combinando objetos e materiais diversificados que vou coletando, colecionando e sendo presenteada com as fotografias antigas, objetos, livros, papéis... Assemblage cria uma camada extra de profundidade e significado”, ressalta a artista. “A escolha dos objetos ecoa com a história, faço experimentações e ajusto a composição.
A curadora ressalta também que à moda de um ritual ancestral, “Alessandra França se une à teia tecida há tempos, desde o mito grego de Penélope”. E completa: “Ela faz reverência às gerações de mulheres e acolhe sentimentos e desejos. Todas essas memórias, contadas e vividas pela artista, e por nós, são o encantamento dos pequenos eventos do cotidiano, mostrando o quanto também somos sujeitos da História”.
Sobre a artista
Artista visual de Itacoatiara/AM, Alessandra França aborda memórias afetivas mesclando fotografias, colagens, bordados e materiais diversos. Sua produção é influenciada pela literatura, a cultura popular, a história oral, a música e as artes plásticas. Foi premiada com Ensaio Fotografia Experimental, no Festival Fotodoc, São Paulo, 2024, e selecionada na convocatória “Qual a sua Amazônia”, tema da 10ª Mostra SP de Fotografia, São Paulo, 2020, e para a Mostra de Portfólio do Festival Foto em Pauta de Tiradentes/MG, 2022. Participou de mostras coletivas como “Brasília a arte do planalto, Museu Nacional da República, 2024 – Brasília/DF, “Handmade: enredos femininos, Centro Cultural Correios, 2024 – Rio de Janeiro/RJ, e “La chair du tourbillon”, La.ima.art, Les Arches Citoyennes, 2024 -Paris, França. Depois de passar por Manaus e Rio de Janeiro, ela vive e trabalha em Brasília.
Sobre a curadora
Ioana Mello é curadora e trabalha entre a Europa e a América Latina. Participa ativamente de festivais e em parcerias com galerias, coletivos e fundações. Em 2019, esteve no Rencontres d’Arles com a exposição “What’s going on in Brazil?” e em 2023 com “Paubrasilia” do artista José Diniz, na Fundação Manuel Rivera Ortiz. Em Portugal, participou dos festivais Diafragma 2021 e Imago 2022 com o coletivo Iandé. Inaugurou a galeria Tryzy, em Lisboa, com a exposição coletiva “Terra Estrangeira”, 2021. É a curadora convidada da Bienal de fotografia da Guiana Francesa para os anos 2024 e 2025. No Brasil, é uma das 6 diretoras artísticas do festival FotoRio e colabora com várias galerias. Fez parte do júri do Sony World Award 2023 e British Journal of Photography 2024. Em Paris, faz parte do comitê de aquisição de fotografias brasileiras para a coleção Bnf e organiza a residência Ithaque para artistas latino-americanos, em 2022. Trabalha com o ensino desde 2014 quando deu aulas na Puc-Rio sobre mercado de arte. Fundou a associação La.IMA e acompanha fotógrafas e dá oficinas sobre mercado de arte, fotografia e curadoria.
Sobre a Referência Galeria de Arte
No dia 25 de novembro de 1995, a Referência Galeria de Arte abriu ao público com uma exposição icônica, que trouxe para Brasília uma exposição inédita de Amílcar de Castro. A essa, seguiram-se várias exposições importantes como as individuais de Athos Bulcão, Carlos Vergara, Claudio Tozzi, e de jovens artistas que hoje são destaque na cena das artes. Com 29 anos de atuação no mercado de arte, a Referência traz para o ambiente da galeria e para espaços institucionais artistas com trajetórias consolidadas, em meio de carreira e iniciantes, em especial de Brasília e do Centro-Oeste.
A galerista Onice Moraes ressalta a importância de apresentar e dar visibilidade aos artistas visuais e curadores da região central do Brasil e de outras regiões fora dos eixos hegemônicos do sistema da arte brasileiro como forma de oferecer ao artista a oportunidade de ter seus trabalhos adquiridos pelo público e pelas instituições.
“As coleções de arte, sejam de colecionadores iniciados ou de iniciantes, precisam incluir os artistas de sua região e de seu tempo. Arte é investimento, é decoração e, acima de tudo, é um registro da história e da reflexão sobre um momento específico dessa construção histórica”, diz Onice Moraes. “Um dos papéis do galerista é orientar a mirada dos colecionadores para esses artistas que produzem em sua vizinhança. Todos podem se beneficiar com a inclusão de artistas da região nas coleções privadas: As coleções ganham importância, ficam mais representativas e diversas”, afirma a galerista.
Serviço:
Contaminada: polímeros canibais
Pinturas, instalações e foto
De | Raquel Nava
Texto | André Torres
Sala Principal
A memória de uma pode ser a memória de muitas
Fotografias com intervenções, colagens e assemblages
De | Alessandra França
Curadoria | Ioana Mello
Sala Acervo
Abertura | 23/11, das 17h às 21h
Visitação | Até 11/01/2025
De segunda a sexta, das 10h às 19h
Sábado, das 10h às 15h
Entrada | Gratuita
Classificação indicativa | Livre para todos os públicos
Endereço | 202 Norte Bloco B Loja 11, Subsolo
Asa Norte – Brasília-DF
Telefone | (+55 61) 3963-3501
Wpp | (+55 61) 98162-3111
E-mail | referenciagaleria@gmail.com
Facebook | @referenciagaleria
Instagram | @referenciagaleria
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