Gerson Fogaça alia talento e paixão em obras de arte que conquistam espaços culturais mundo afora
As dificuldades da infância, em um período de desestruturação familiar, não tiraram do menino goiano a vontade de vencer e, acima de tudo, de mostrar seu talento para o mundo. Nascido em 1967, na Cidade de Goiás, antiga capital do estado, e criado no pequeno município de Britânia, Gerson Fogaça, vindo de uma família negra com raízes humildes — uma avó lavadeira, um pai oleiro e uma mãe parteira — despertou para a cena das artes visuais desde criança, mesmo sem ter tido contato com museus ou galerias. Sua inspiração vinha do próprio desejo de criar e do ambiente ao seu redor.
Das águas do Lago dos Tigres, em Britânia, saíam os pescados capturados por ele, que eram comercializados aos vizinhos e moradores da cidade, ajudando-o a se sustentar. As brincadeiras de criança pouco faziam parte de sua rotina; nas horas vagas, Gerson preferia se dedicar à pintura. Sem acesso a materiais convencionais, ele improvisava: usava tinta automotiva preta e branca sobre cascos de tartarugas, abundantes na região, como suporte para sua criatividade.
Aos 16 anos, Gerson teve um encontro que mudaria sua vida. Ele presenteou Cleuza Assunção, filha do prefeito de Britânia, com um pequeno quadro. Cleuza, tocada pelo talento do jovem, conversou com seu pai para garantir-lhe uma oportunidade de trabalho. Esse contato abriu portas para que, em 1985, Gerson se mudasse sozinho para Goiânia aos 17 anos, sem contato com o pai ou a mãe, em busca de uma vida nova. Foi então que começou a trabalhar no IPASGO SAÚDE, onde permaneceu por 15 anos. O emprego trouxe estabilidade e novas oportunidades de crescimento pessoal e artístico.
Foi também em 1985, ao chegar a Goiânia, que Gerson visitou pela primeira vez um museu de arte, o que expandiu sua visão e reforçou sua determinação de seguir a carreira artística. Inspirado pelas palavras de um chefe que o incentivou a perseguir seus sonhos, ele dividia seu tempo entre o trabalho no IPASGO e a produção de telas, que logo atraíram a atenção de uma galerista local. Com o apoio de sua esposa, a produtora cultural Malu Cunha, ele começou a buscar novos espaços para expor suas obras, conquistando um público cada vez maior.
Mundo afora
Ao longo de 40 anos de trajetória no circuito das artes visuais conta com inúmeras exposições nacionais e internacionais, obtendo reconhecimento pelo seu trabalho. Suas realizações incluem o Prêmio Funarte de Artes Visuais em 2010 e foi selecionado para o Edital de Ocupação de Espaços Culturais da Caixa Econômica Federal, na Galeria Vitrine da Paulista em São Paulo. Em 2012, participou da exposição coletiva “7 x Cidade” no Espaço Cultural Eletrobrás Furnas, com curadoria de Enock Sacramento. Também foi selecionado pelo Conselho Provincial de Artes Visuais de Havana para expor na Galería Carmen Montilla em Havana Velha, Cuba, em 2013.
As exposições individuais de Fogaça visitaram continentes. Em 2006, expôs na Sala Amanda Labarca da UTEM, em Santiago, Chile, e na Pontifícia Universidade Católica de Temuco, Chile. No ano seguinte, expôs seu trabalho no L’espace d´exposition de Guaran em Lectoure, França, na Galería La Ronda em Palma de Mallorca, Espanha, e na Sala Entel em La Paz, Bolívia. Suas exposições em 2010 incluíram a Galeria Portinari (Funceb), em Buenos Aires, Argentina, e o Instituto Cultural de Providência em Santiago, Chile. Em 2011 apresentou-se na Galeria Luz y Oficios em Havana, Cuba, e no Espace Ocktogen em Saint-Ghislain, Bélgica.
O destaque de seu trabalho foi mantido em diversos outros espaços culturais, com exposições no Museo de Arte Alejandro Otero em Caracas, Venezuela, na Fundación Fiart em Madrid, Espanha, e na Galería Pedro Esquerré, em Matanzas, Cuba, em 2015. Sua exposição “Borderline”, de 2016, foi apresentada no Centro Cultural Correios em Salvador, Brasil, curadoria de Dayalis Gonzáles e Gilmar Camilo. Em 2017, expôs “Visões Simbólicas” na Casa Brasil, em Bruxelas, Bélgica, e no Museo Histórico y Militar de Chile, em Santiago. Esta exposição teve continuidade na Casa da América Latina em Lisboa, Portugal, com curadoria de Patrícia Avena Navarro, em 2018 e 2019.
Além das exposições individuais, Fogaça participou em inúmeras exposições coletivas de prestígio. Seus trabalhos foram expostos no Museu de Arte Contemporânea de Campinas “José Pancetti” em São Paulo, na Galeria Potrich de Arte Contemporânea em Goiânia, e na “Un solo cuerpo. Arte contemporáneo en los países del Mercosur”, no Museo de Arte Alejandro Otero e PDVSA La Estancia em Caracas, Venezuela, em 2013. Também participou de “One Body, Arte Contemporânea nos Países do Mercosul”, no Museu de Arte Contemporânea de Goiás, Centro Cultural Oscar Niemayer, e em “Cidades Imaginárias”, no B.AGL ART afFAIRs 2015, em Berlim, Alemanha.
Seus trabalhos foram apresentados em “Palimpsesto” na Galeria Potrich de Arte Contemporânea em Goiânia e no Centro Cultural Las Rozas, em Madrid, Espanha. Em 2016 participou do espetáculo “Cidades e Metáforas”, na Casa Alba em Havana, Cuba. Suas exposições em 2017 incluíram “Instinct” no Museo Histórico y Militar de Chile em Santiago, e “Place in No Place” no Museo de Arte Contemporânea de Caracas, Venezuela, que continuaram em 2018. Em 2019, colaborou com Pedro Juan Gutiérrez para “Sangue no Alguidá, um Olhar do Realismo Sujo Latino-Americano” no Museu Nacional da República, em Brasília, com curadoria de Dayalis Gonzales Perdomo. Recentemente, expôs no Miami Hispanic Cultural Arts Center e na University of Miami em 2022, e no Museu de Arte Contemporânea das Américas (MOCAA), em Miami, em 2024.
Para o próximo ano, 2025, o artista conta com importantes convites para exposições na Flórida, Miami, Cidade do México, Buenos Aires, São Paulo, Belo Horizonte, entre outras cidades que farão mostras com obras do artista que conquista os apreciadores de artes visuais, com seus trabalhos que mesclam diversas escolas de arte, como o Abstracionismo e Expressionismo.
Presente â Britânia
Para o futuro, o artista visa manter seu trabalho e a missão em apresentar ao mundo e aos apreciadores das artes visuais o quanto a arte muda a vida do ser humano. Dentre os projetos que passaram a compor seus objetivos de vida está o engajamento para construção do Museu de Arte Contemporânea de Britânia, um presente para a cidade que lhe abraçou e fez com que seus sonhos se tornassem realidade.
Localizado às margens do Lago dos Tigres, o museu pretende ser uma referência cultural não só para Britânia e o estado de Goiás, mas também para o Brasil. O espaço abrigará exposições de artistas nacionais e internacionais, oferecendo aos moradores e visitantes de uma cidade com aproximadamente 5 mil habitantes a oportunidade de vivenciar a arte contemporânea de maneira acessível e inspiradora. Além de promover a arte, o projeto visa contribuir para o crescimento econômico do município, ao atrair festivais de arte e outras atividades culturais que movimentem a economia local.
Fogaça está determinado a concretizar esse sonho e, além do apoio governamental, inicia a busca por parcerias com a iniciativa privada para viabilizar o projeto. O MAC de Britânia não será apenas um local de exposições, mas um centro de cultura, educação e turismo, com potencial para transformar a vida da comunidade e fortalecer a presença da arte no interior do Brasil, tornando-se uma referência no cenário nacional.
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