Grande Prêmio do Cinema Brasileiro é marcado pela falta de diversidade
Com o objetivo de analisar a falta de inclusão e diversidade na produção audiovisual brasileira, o GEMAA (Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa) realizou uma análise inédita das edições do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (GPCB), revelando disparidades significativas de gênero e raça nas indicações e premiações.
Criado em 2002, o GPCB é realizado anualmente pela Academia Brasileira de Cinema (ABC) para promover filmes nacionais. Os indicados para a premiação de 2024 já foram anunciados, e os vencedores serão conhecidos pelo grande público em 28 de agosto.
O estudo "Diversidade de Raça e Gênero no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (2002-2023)" do GEMAA destaca a predominância de pessoas brancas em todas as categorias, com uma maioria significativa de homens brancos ocupando posições de Direção e Roteiro. Em contraste, pessoas pretas, pardas ou indígenas (PPIs) se destacam apenas em casos excepcionais, como Dira Paes, Lázaro Ramos, Flávio Bauraqui e Fabrício Boliveira.
Homens brancos receberam quatro vezes mais indicações na categoria "Melhor Ficção" do que todos os outros grupos combinados (mulheres brancas, mulheres PPIs ou homens PPIs). Entre os vencedores, essa predominância é ligeiramente reduzida, com 70% dos prêmios indo para homens brancos, em comparação com 81% das indicações. A presença de pessoas PPIs é alarmantemente baixa. Em 22 anos da premiação, apenas sete homens PPIs foram indicados na categoria de Direção, com a primeira vitória ocorrendo apenas em 2023, com Gabriel Martins por “Marte Um”.
O estudo também revela que, nas últimas décadas, nenhuma mulher PPI dirigiu ou roteirizou filmes de grande público no Brasil. Em contrapartida, mulheres brancas conquistaram prêmios na categoria "Melhor Ficção" em seis ocasiões, com destaque para Anna Muylaert, que venceu duas vezes. Apesar da percepção de que o gênero documentário é mais inclusivo, o estudo comprova que apenas 1% das indicações na direção dessa categoria foram para mulheres PPIs: Tetê Moraes em 2002 por “O Sonho de Rose – 10 anos depois” e Camila Pitanga, em parceria com Beto Brant, em 2018 por “Pitanga”.
Os dados reforçam a necessidade urgente de políticas públicas para promover a diversidade no cinema nacional, tanto em termos de financiamento quanto de reconhecimento. “Cotas em editais e iniciativas específicas são essenciais para corrigir o intenso desequilíbrio na representatividade de gênero e raça na indústria, de forma a refletir a diversidade do país também nesse setor. Esta pesquisa traz à tona as trajetórias apagadas e os desafios enfrentados por cineastas sub-representados, destacando a importância de premiações e festivais como espaços de consagração e ativismo", alerta Luiz Augusto Campos, coordenador do GEMAA.
O levantamento do GEMAA revela não apenas as profundas desigualdades na história do GPCB, mas também casos de pioneirismo, como a liderança de mulheres brancas em competições de Direção e Roteiro, e a presença limitada de pessoas PPIs em elencos. Embora esses casos de representatividade sejam importantes, não podem esconder as disparidades que dificultam a entrada e ascensão de grupos sub-representados na indústria cinematográfica. A falta de diversidade no cinema brasileiro reflete dinâmicas mais amplas de discriminação de gênero e racismo, o que enfraquece o potencial cultural do país, conclui o estudo.
Resumo dos dados
Homens brancos dominam as premiações de direção e roteiro do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro
Diretores homens brancos são 70% dos vencedores na categoria “Melhor Ficção”, 81% dos vencedores em “Melhor Documentário” e 74% dos vencedores em “Melhor Direção”.
Roteiristas homens brancos são 77,5% dos vencedores em “Melhor Roteiro Original” e 88% em “Melhor Roteiro Adaptado”.
Pessoas brancas dominam as indicações para premiação do elenco do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, mas atrizes e atores pretos, pardos ou indígenas ganham destaque.
Na categoria “Melhor Atriz”, mulheres brancas são 84% das indicadas e 81% das vencedoras, contra 16% de indicadas mulheres pretas, pardas ou indígenas e 19% de vencedoras.
Na categoria “Melhor Atriz Coadjuvante”, mulheres brancas são 88% das indicadas e 91% das vencedoras, contra 13% de indicadas mulheres pretas, pardas ou indígenas e 9% de vencedoras.
Na categoria “Melhor Ator”, homens brancos são 80% dos indicados e 73% dos vencedores, contra 20% de indicados homens pretos, pardos ou indígenas e 27% de vencedores.
Na categoria “Melhor Ator Coadjuvante”, homens brancos são 79% dos indicados e 78% dos vencedores, contra 21% de indicados homens pretos, pardos ou indígenas e 22% de vencedores.
Em mais de duas décadas, entre 2002 e 2023, excluindo 2006 por ausência de dados, a indicação exclusivamente de pessoas brancas ocorreu em 38% das vezes na categoria “Melhor Atriz”, 38% na categoria “Melhor Atriz Coadjuvante”, 38% das vezes na categoria “Melhor Ator” e 24% na categoria “Melhor Ator Coadjuvante”.
O estudo produzido pelo GEMAA conta com o apoio de divulgação da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) e +Mulheres no Audiovisual.
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