O Museu das Bandeiras apresenta Minha alma sofre em casa de argila | De Triz de Oliveira Paiva | Curadoria de Marco Antônio Vieira
A tragédia climática, a tragédia da exploração desenfreada e a consequente exaustão dos recursos naturais, entre outros fenômenos devastadores causados pela presença humana, levaram a artista visual brasiliense Triz de Oliveira Paiva a produzir as obras para a mostra “Minha alma sofre em casa de argila”, que abre ao público no dia 14 de fevereiro no Museu das Bandeiras (MuBan), na Cidade de Goiás (GO), com a curadoria de Marco Antônio Vieira. Em trânsito entre o escultórico e o site specific, a artista traz para o espaço do museu os vestígios de um futuro que se apresenta impregnado de lama, lodo e pó. Em exibição até o dia 31 de março, a visitação é de terça a sábado, das 9h às 18h, e domingo, das 9h às 13h. No Instagram @museus.ibramgo. O MuBan fica na Praça Brasil Ramos Caiado, Setor Central – Cidade de Goiás – GO.
Triz dedica-se a pesquisar o jardim, adentrando suas profundezas. Os temas trazidos ao campo expositivo orbitam o eixo da relação do homem com a natureza, o que implica em desdobramentos/crises existencialistas. Politicamente, posiciona-se sobre questões ambientais, principalmente, em defesa do Cerrado. Ela revela o ambiente onde está inserida, mas sua produção tem um endereçamento muito mais particular.
Em “Minha alma sofre em casa de argila”, primeira mostra individual de Triz de Oliveira Paiva, a artista cria a cena de uma tragédia, onde as provas do crime estão por toda parte e para encontrar os responsáveis pelo “crime” é preciso entender os processos que levaram à essa situação. “A mostra articula-se à maneira de libelo. É uma proposição espaço-visual, em que a ideia de ‘lugar’ interpela quem a adentrar, por meio de seus dispositivos instalativos, a encarar, pelo viés poético, a tragicidade da crise climática do ‘colonialoceno’” ", afirma. “O barro, elemento estruturante na minha pesquisa, declina-se aqui em seus efeitos cataclísmicos na terra: lama, lodo, pó”, sentencia a artista brasiliense.
Diferentemente da escultura que precisa passar por processos de subtração de matéria, em Minha alma sofre em casa de argila as peças instalativas se constituem por adesão de matéria, grossas camadas de pátinas terrosas que recobrem móveis e objetos. “O barro aqui converte-se em véus espessos de terra que se depositam e envolvem parte dos objetos”, diz o curador. “O que se manifesta, portanto, é uma apreensão do ‘escultórico’ como intervenção material às avessas, no sentido de que é o resultado do acréscimo das camadas de barro sobre os objetos aqui dispostos, de modo a alegorizar seu vínculo poético com a vermelhidão da terra do Cerrado”, completa.
Em seu texto curatorial, Marco Antônio Vieira ressalta que as semânticas dos vocábulos ‘local’ ‘localidade’, ‘terreno’, território’ têm um peso muito maior para artistas como Triz que trabalham e vivem no Centro-Oeste “(Triz tem)A compreensão do ‘lugar’ que o Centro-Oeste ocupa na narrativa história do território nomeado ‘Brasil’, a partir de suas violências a um só tempo simbólicas e necropolíticas (políticas estratégicas e seletivas de morte e silenciamento), como aprendemos junto a Achille Mbembe (2018)”. E segue: “A ideia de ‘lugar’ aqui se dilata e se expande para abarcar o momento histórico, o ‘quando’ de uma ocorrência. As imbricações conceituais de ‘lugar’ e ‘acontecimento’ são indissociáveis e, ao assumir o instalativo, Minha alma sofre em casa de argila busca reunir, naquilo que a instalação acomoda como linguagem artística, os sentidos (sensorialidade e significação) do que forja, para sua autora, esta mostra.”
"A partir do que se faz com o barro, os ‘objetos encontrados’ aqui reunidos remontam não apenas a uma possibilidade de escultura ‘recolhida’, ou seja, não modelada, cinzelada ou fundida pela artista, mas sobre a qual se intervém, a partir do tratamento a que se submete o barro, convertendo-o em uma espécie de ‘pele’, cujas camadas reconfiguram os trabalhos de Paiva de modo que o revestimento que os recobre produza visual e texturalmente um particular entendimento do ‘pictórico’."
Marco Antônio Vieira, curador
Em Minha alma sofre em casa de argila é tanto a cena de um crime quanto uma espécie de sítio arqueológico. “A cena de um pesadelo é uma imagem cifrada: código de um código outro. A cena é o lugar de um acontecimento diante dos olhos que situam o corpo que vê no espaço da ação”, diz o curador. A exposição, segundo Marco Antônio Vieira, estabelece o que ele chama de “entrelugar”, algo ainda não mapeado, onde as relações entre forma, linguagem e matéria se amalgamam, criando uma zona de instabilidade sobre o que já se conhece no âmbito da história da arte. As obras "encenam negociações morfológico-matéricas (entre formas, suportes, linguagens e materialidades) que desestabilizam certezas consagradas pelos discursos da teoria e história da arte ocidentais, tornando-o assim um lugar de instabilidades temporais e fantasmáticas, em que o passado é a um só tempo trauma a ser convertido poeticamente e motivo de ressignificação estética", sentencia o curador.
Sobre a artista
(Bea)Triz de Oliveira Paiva (Brasília, 1984), é artista visual autodidata e transdisciplinar, formada em jornalismo (2005). Estudou aquarela, cerâmica, pigmentos naturais e preservação de flores de forma livre entre 2020 e 2023. Participou de residências artísticas no Vilarejo 21, com curadoria crítica de Christus Nóbrega (2022) e acompanhamento crítico com Marília Panitz (2023). Fez acompanhamento crítico com a artista Suyan de Mattos (2023). Atualmente faz acompanhamento crítico com Marco Antônio Vieira (2023/2024). Sua trajetória inclui exposições no Distrito Federal, Goiás e Rio de Janeiro. Vive e trabalha em Brasília. Mas coloca-se em condição de constante movimento entre a Capital e Cavalcante - GO. É integrante do coletivo Maskarada. Em setembro, Triz participa da mostra “Obra têxtil”, no MAC Niterói.
Sobre o curador
Marco Antônio Vieira é Doutor em Arte, na linha de Teoria e História da Arte, pelo PPG em Artes Visuais, do Instituto de Artes da UnB. Atua como curador independente desde 2007, tendo assinado curadorias de mostras individuais e coletivas com obras de artistas como Rubem Valentim, Athos Bulcão e Vik Muniz. Trabalhou junto a instituições como a Casa Fiat de Cultura (BH) e o Paço das Artes, em São Paulo. Desde 2019, desenvolve projetos curatoriais para espaços independentes no Centro-Oeste, em que investiga, junto aos artistas com quem trabalha, a noção de 'exposição como obra' e a espacialização significante que encerra o evento expositivo como montagem alegórica. É autor de textos críticos, curatoriais e acadêmicos, publicados no Brasil e no exterior. Desde agosto de 2022, é professor colaborador do Programa de Licenciatura em Artes Visuais, na área de teoria e história das artes visuais e processos poéticos no ensino de artes visuais, do Departamento de Artes, da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), Paraná.
Sobre o Museu das Bandeiras
O Museu das Bandeiras, criado por lei em 1949, mas aberto ao público somente em 1954, é sediado na Antiga Casa de Câmara e Cadeia, construída em 1766 na então Villa Boa de Goyaz. No Arquivo Histórico há documentos da Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Goiás. O acervo é composto por 573 peças, entre objetos de arte sacra, mobiliário, vestuário, armamentos, utensílios e outros, confeccionados em estilos, técnicas e épocas diversas. O Museu das Bandeiras tem como missão preservar, pesquisar e comunicar a memória nacional relativa à ocupação na região Centro-oeste do Brasil, enfatizando as contribuições dos diversos segmentos étnico-sociais presentes neste processo, visando a universalidade do acesso, a sustentabilidade cultural, social, econômica e ambiental, e contribuir para o desenvolvimento do país, por meio da promoção da inclusão social, da igualdade racial e de gênero, da valorização da diversidade cultural e sexual; e do respeito aos direitos e à dignidade humana.
Serviço:
Minha alma sofre em casa de argila
De | Triz de Oliveira Paiva
Instalação e site specific
Curadoria | Marco Antônio Vieira
Onde | Museu das Bandeiras (MuBan)
Cidade de Goiás - GO
Visitação | De 14 de fevereiro a 31 de março
Terça a sábado, das 9h às 18h
Domingo, das 9h às 13h
Agendamento | Telefone: (61) 35214345
Wpp: +55 62 98220-0079
Endereço | Praça Brasil Ramos Caiado, Setor Central – Cidade de Goiás – GO
Geolocalizador | https://museusibramgoias.acervos.museus.gov.br/museu-das-bandeiras
Entrada | Gratuita
Classificação indicativa | Livre para todos os públicos
Redes Sociais | @triz.dooutroladodojardim
@museus.ibramgo
@marcoantonioramosvieira
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