top of page

A Lenda de Ochi surpreende com beleza, mas frustra com ritmo

Por: Adriane Bayard


Fui ao cinema assistir A Lenda de Ochi esperando encontrar um filme na pegada de Dungeons & Dragons — algo repleto de ação, criaturas místicas, magia e um enredo épico. Mas o que encontrei foi algo completamente diferente. Longe das grandes batalhas e estratégias de guerra, este é um filme de fantasia mais introspectiva, com ritmo lento e um universo visualmente encantador, criado em grande parte com o auxílio de inteligência artificial. A sensação que tive ao sair da sala é de que não era só Yuri, a protagonista, quem buscava um caminho — todos os personagens pareciam igualmente perdidos, à deriva em suas próprias jornadas.


A trama nos transporta para a ilha fictícia de Carpathia, onde humanos e seres mágicos convivem em uma separação frágil. Yuri, criada para temer os Ochi — criaturas misteriosas e quase mitológicas —, encontra um filhote perdido e, contrariando os desejos do pai, decide devolvê-lo à floresta. Esse simples gesto dá início a uma jornada de reconexão com a natureza, com os segredos do passado e com as emoções que ela mesma ainda não compreende por completo. Mais do que uma narrativa convencional, o filme é uma experiência atmosférica, que se apoia na contemplação. A jornada é tocante, mas o roteiro tem um quê de "sessão da tarde", sem grandes surpresas ou viradas marcantes.


No elenco, Helena Zengel interpreta Yuri com uma intensidade silenciosa — determinada, mas contida. Willem Dafoe, como sempre, é magnético, ainda que seu personagem, Maxim, não seja plenamente explorado. Há tentativas de construir uma tensão emocional nas relações familiares, mas a direção contemplativa dilui parte desse impacto.


Se há algo que realmente se destaca é o visual: as paisagens naturais, os efeitos práticos e o design artesanal das criaturas remetem à fantasia oitentista, com aquele charme nostálgico que aquece os olhos, mesmo quando o coração não se envolve da mesma forma. É um filme bonito de se ver — e isso, por si só, já vale a experiência para quem aprecia esse tipo de estética.

Com direção e roteiro de Isaiah Saxon, A Lenda de Ochi tem 96 minutos de duração e chega ao Brasil pela Paris Filmes no dia 29 de maio de 2025. Produzido pela A24 em parceria com a AGBO, dos irmãos Russo, o longa reúne um elenco que inclui, além de Zengel e Dafoe, Emily Watson e Finn Wolfhard.


No fim das contas, A Lenda de Ochi é um filme belo, mas vago. Sua proposta é mais artística do que comercial e, por isso, pode frustrar quem espera um RPG nas telonas. Para mim, foi como entrar em uma floresta esperando encontrar um dragão — e sair de lá com uma borboleta na mão. Bonita, sim, mas não era o que eu imaginava.

Comments


© 2025 por Rodac Comunicação Criativa

bottom of page