Cinemas Negros e Educação Antirracista realiza 5ª sessão com filme sobre legado da capoeira angola e roda de conversa com mestres
- Rodrigo Carvalho
- há 2 dias
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O Projeto Cinemas Negros e Educação Antirracista chega à sua quinta sessão com um mergulho no universo ancestral da capoeira angola. No sábado, 31 de maio, às 17h, o Cineclube Maria Grampinho recebe a exibição do documentário “Dessa arte eu sei um pouco”, dirigido por Cled Pereira. A sessão gratuita será seguida por uma roda de conversa com o diretor e nomes de referência na cultura afro-brasileira: Mestra Ana Maria (Grupo Só Angola), Mestre Guaraná (Sertão Negro), Mestre Vermelho (Grupo Só Angola) e Mestre Goyano (Grupo Barravento). A atividade acontece no Sertão Negro – Ateliê e Escola de Artes, em Goiânia, com entrada gratuita.
O documentário “Dessa arte eu sei um pouco” (Cled Pereira, 2024) apresenta a trajetória de Mestre Paulo dos Anjos, uma das figuras mais relevantes da Capoeira Angola na Bahia e no Brasil. O filme conduz o espectador por meio das memórias e vivências de três de seus discípulos (hoje, mestres Jaime de Mar Grande, Jorge Satélite e Rene Bittencourt) – homens negros que, ao lado do mestre, construíram uma caminhada de resistência, afeto e saber coletivo. Mais do que um registro biográfico, a obra se transforma em uma narrativa sobre pertencimento, solidariedade e o papel agregador da capoeira na vida de seus praticantes. Com um olhar sensível, Cled Pereira cria uma homenagem à oralidade, à ancestralidade e ao modo de viver da capoeira enquanto filosofia, arte, luta e expressão política. A produção faz parte de um esforço maior de preservação de saberes afro-brasileiros que não estão registrados em livros, mas que sobrevivem no corpo, na palavra e nas práticas comunitárias
Para Ceiça Ferreira, coordenadora do projeto, a sessão é um convite a reconhecer a capoeira como ferramenta de resistência e educação. “Essa exibição é uma oportunidade de refletirmos sobre a capoeira como posicionamento diante do mundo – ela ensina valores, história e coletividade. O filme nos conecta com esses saberes, essas tecnologias ancestrais negras”.
Roda de conversa: memória, oralidade e resistência
Após a sessão, haverá uma roda de conversa com o cineasta Cled Pereira e nomes fundamentais da Capoeira Angola em Goiás, que compartilharão suas vivências, saberes e perspectivas sobre o filme e sobre a importância de manter viva essa tradição. O encontro reúne mestres e mestra que são referências na construção de uma educação antirracista e no fortalecimento das culturas negras no estado. Para Edileuza Penha de Souza, curadora do projeto, ouvir essas vozes é essencial na luta contra o racismo estrutural: “Trazer mestres e mestra para compartilhar seus saberes é valorizar a oralidade e os modos de viver ancestrais que ainda hoje são invisibilizados. A educação antirracista precisa se comprometer com esses conhecimentos.”
Mestre Guaraná, ou Carlos Alberto Martins Alves, soma mais de 40 anos de caminhada na capoeira. É fundador do Grupo Calunga de Capoeira Angola e mestre do Sertão Negro – Ateliê e Escola de Artes, onde também atua como artista visual e pedagogo. Reconhecido por sua escuta generosa e pensamento crítico, ele afirma: “Unir cinema e capoeira é uma forma potente de preservar e espalhar nossos saberes. Essa parceria, que já iniciamos aqui na escola, fortalece a memória coletiva e amplia o alcance da nossa mensagem. Agora, com a presença de outros mestres e mestra que caminham há décadas nesse chão da cultura negra, a roda se engrandece ainda mais. É um encontro de histórias, vivências e resistência. Um momento de aprendizado profundo para todos nós.”
Uma das fundadoras do Grupo Só Angola, Mestra Ana Maria é goianiense, mulher negra, mãe, enfermeira e mestra de Capoeira Angola. Desenvolve um trabalho admirável com capoterapia, levando os valores civilizatórios afro-brasileiros a crianças e idosos. Por onde passa, semeia inspiração, cuidado e ancestralidade em forma de movimento, canto e presença.
Figura central na preservação da cultura afro-brasileira em Goiás, Mestre Vermelho – nascido Vanderly Francisco de Oliveira – é referência na Capoeira Angola e nas manifestações tradicionais do estado. Sócio-fundador do Grupo Só Angola e presidente da Associação de Capoeira Angola do Estado de Goiás, também se destaca como luthier de instrumentos de percussão e fundador do Angoleiros de Samba Chula, o primeiro grupo do gênero em Goiás. Está à frente do Ponto de Cultura Buracão da Arte e em 2025 recebeu o título de Doutor Honoris Causa, reconhecimento por sua trajetória de mais de 30 anos como guardião das tradições negras.
Mestre Goyano, nome de batismo Durval José Martins, é uma voz essencial da cultura negra em Goiás. Reconhecido por sua dedicação à Capoeira Angola, Samba de Roda e aos cantos e ritmos afro-brasileiros, ele tem atuado desde 1986 na promoção e preservação dessas tradições em Goiânia e Aparecida de Goiânia. Professor de educação física e mestre respeitado, é considerado uma das principais referências vivas da ancestralidade no estado, conduzindo seus saberes com profunda sensibilidade e compromisso com a comunidade.
Sobre o projeto
O projeto “Cinemas Negros e Educação Antirracista” será realizado até setembro de 2025, com sessões temáticas que destacam o cinema negro como ferramenta de reflexão e transformação social. A iniciativa conta com recursos da Política Nacional Aldir Blanc, operacionalizada pelo Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Cultura.
SERVIÇO:
Projeto Cinemas Negros e Educação Antirracista – 5ª sessão com exibição do filme “Dessa arte eu sei um pouco” de Cled Pereira
Data: 31 de maio (sábado).
Horário: às 17h.
Local: Cineclube Maria Grampinho | Sertão Negro – Ateliê e Escola de Artes (Goiânia-GO).
Exibição do filme: “Dessa arte eu sei um pouco” (Cled Pereira, 2024).
Roda de conversa: Cled Pereira, Mestra Ana Maria, Mestre Guaraná, Mestre Vermelho e Mestre Goyano.
Entrada gratuita.
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