Diálogo entre as obras do artista argentino Max Gómez Canle e da artista brasileira Rafael Chavez são apresentadas pela Casa Triângulo na ArPa 2025
- Rodrigo Carvalho
- há 15 minutos
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Max Gómez Canle propõe um olhar incomum: para baixo. Por meio desta nova série de pinturas, ele investiga as poças d’água como um modo de questionar a paisagem e sua representação, evitando a tradicional separação entre homem e natureza — tão comum na pintura paisagística, onde o homem aparece como observador e a paisagem, organizada matematicamente pela perspectiva.
E se, ao olhar para baixo, a paisagem aparecer refletida na poça — mas fora de ordem? Por séculos, a perspectiva foi o recurso com que o homem organizou e consumiu o mundo visualmente. Aqui, trata-se de inverter essa lógica: é como se surgisse uma escala íntima da paisagem — os mesmos elementos estão presentes, mas reorganizados de outro modo, de forma sensível e próxima. Daí a escolha por pinturas pequenas: a escala mínima de uma grande poça, do aquífero da bacia do Paraná, que se fragmenta nos pântanos até chegar à poça encontrada ao acaso, no caminho.
Observar essas poças é se deparar com a flora e a fauna, perceber o que se reflete, o que flutua, e também a si mesmo imerso nesse conjunto. Gómez Canle recria esse universo através da poética de seus personagens: a besta autobiográfica (o artista, o observador), a geometria construída pelo homem, e a montanha, que encarna uma espécie de tempo geológico — um tempo outro.
São poças, mas também são mundos, onde diferentes elementos convivem. Espaços em que o artista revisita diversos clichês da paisagem litorânea: palmeiras, ipês em flor, a terra avermelhada. Um estudo sobre como a água aparece na pintura, trazido ao presente e exibido como um esquema possível de reordenamento — uma nova forma de entrar nessa paisagem.
Fernando Narina
Rafael Chavez é uma artista plástica autodidata da caatinga, no sertão da Paraíba, de Santa Luzia, na região do Vale do Sabugi, berço arqueológico com mais de 25 sítios catalogados pelo IPHAN. Sua trajetória artística é marcada pela diversidade de materiais e formas de expressão. Esse contexto, rico em diversidade, fomentou sua curiosidade e desejo de experimentar diferentes mídias, incluindo pintura a óleo, acrílica, aquarela, pintura digital, animação, escultura, videoarte e música.
As obras de Chavez transcendem a simples representação visual, explorando interseções entre corpo, paisagem, espiritualidade e território. Sua produção celebra a vitalidade do sertão nordestino e as dinâmicas da vida sertaneja, que impregnaram seu processo de pesquisa artística sem estereótipos, juntamente com os mistérios e possibilidades arqueológicas da mata da caatinga. A expressão de corpos queer e desviantes também é um dos fios condutores do seu trabalho, desafiando normas predefinidas de identidade e autenticidade.
O trabalho de Rafael Chavez celebra a diversidade em todas as formas de expressão. Cada obra é um portal para compreensões mais profundas sobre a existência em um universo diverso. Suas obras destacam questões contemporâneas sobre identidade, resistência e transformação, refletindo suas experiências pessoais e a rica herança cultural do sertão nordestino. A arte de Chavez transforma as complexidades da existência em uma euforia vibrante, desafiando o espectador a repensar normatividades e estereótipos.
Sobre os artistas
Max Gómez Canle (1972, Buenos Aires, Argentina. Vive e trabalha em Buenos Aires, Argentina). Formado em Artes Plásticas pela Escuela Nacional de Bellas Artes Prilidiano Puerreydón. Exposições individuais selecionadas: La Tregua del Agua Museo Jallpha Klachaki, Salta, Argentina; Museo de Arte Contemporáneo de Rosario, Rosario, Argentina; Museo del Barrio, Centro de Artes Visuales, Asunção, Paraguai (2024), Fuera de lugar, Casa Triângulo, São Paulo, Brazil (2022); Vivir así: sin palabras, Ruth Benzacar Galería de Arte, Buenos Aires, Argentina (2020); El salón de los caprichos, Museo de Arte Moderno de Buenos Aires, Argentina (2019); La distancia termina en el barranco, Casa Triângulo, São Paulo, Brasil (2017); Condición y Cabeza, Fundación Federico Jorge Klemm, Buenos Aires, Argentina (2016); Fisionomía del tiempo, FLORA ars+natura, Bogotá, Colômbia (2014); El devenir de una memoria, Casa Triângulo, São Paulo, Brasil (2013). Exposições coletivas selecionadas: Amigos del Siglo XX, Los motivos, Museo de la Cárcova, Buenos Aires, Argentina (2025), Arriba en la Cima, Museo Franklin Rawson, San Juan, Argentina (2024), Simbiología. Prácticas artísticas en un planeta en emergencia, Centro Cultural Kirchner, Buenos Aires, Argentina (2021); Reunión, Ruth Benzacar Galería de Arte, Buenos Aires, Argentina (2021); Una Historia de la Imaginación en la Argentina, Museo de Arte Moderno de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina (2019); Le Le Lend, Buenos Aires, Argentina (2018); Paisaje: el devenir de una idea, Centro Cultural Kirchner, Buenos Aires, Argentina (2016); My Buenos Aires, Maison Rouge: Foundation Antoine de Galbert, Paris, França (2015). Prêmios: Premio Klemm, Buenos Aires, Argentina; Premio Andreani, Buenos Aires, Argentina; Salón Nacional de Rosario, Rosario, Argentina, entre outros. Coleções públicas: Museo de Arte Moderno de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina; Museo Nacional de Bellas Artes Neuquén, Neuquén, Argentina; Museo Castagnino+macro, Rosario, Argentina; Fundación Federico Jorge Klemm, Buenos Aires, Argentina.
Rafael Chavez (1996, Santa Luzia, Brasil. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil). Formação: Arquitetura e Urbanismo, UNIPÊ - Centro Universitário de João Pessoa, João Pessoa, Brasil (2014-2017). Exposição individual: Desencadeamento Flamejante, Out Gallery, Santo André, Brasil (2023). Exposições coletivas: Meu Quintal é Maior que o Mundo, curadoria de Priscyla Gomes, Casa Triângulo, São Paulo, Brasil (2025); Jingdezhen International Ceramic Art Biennale, curadoria de Lyu Pinchang e Torbørn Kvasbø, Jingdezhen, China (2023); Artistas de Santa Luzia Sesquicentenária, Museu Municipal Jeová Batista, Santa Luzia, Brasil; ExpoSesc 2021, Sesc Paraíba, João Pessoa, Brasil (2021). Coleções Públicas: Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil e Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil.