Fumaça branca no Vaticano: cardeal norte-americano Robert Prevost é eleito Papa Leão XIV

A fumaça branca que simboliza a escolha de um novo papa subiu da chaminé da Capela Sistina nesta quinta-feira (8), encerrando o segundo dia de conclave e marcando o início de um novo capítulo na história da Igreja Católica. O cardeal norte-americano Robert Francis Prevost foi eleito como o novo pontífice e adotará o nome de Leão XIV.

Prevost foi escolhido com ao menos 89 votos entre os 133 cardeais presentes — número que supera os dois terços exigidos pelo processo. Ele sucede o Papa Francisco na liderança da Igreja, tornando-se o primeiro papa norte-americano e também o primeiro vindo de uma nação de maioria protestante.

Natural de Chicago, nos Estados Unidos, Prevost tem 69 anos e construiu uma longa trajetória na América Latina, especialmente no Peru. Lá, atuou por mais de uma década em comunidades missionárias e chegou a ocupar cargos de destaque na Conferência Episcopal Peruana. Posteriormente, foi nomeado para a Congregação do Clero e depois para a Congregação para os Bispos — órgãos cruciais na hierarquia do Vaticano.

Durante sua passagem pelo país, enfrentou também seu maior desafio institucional: em 2023, três mulheres o acusaram de acobertar casos de abuso sexual cometidos por dois padres quando elas ainda eram crianças. Segundo as denúncias, uma das vítimas chegou a ligar diretamente para Prevost em 2020. Em 2022, ele recebeu oficialmente os relatos e repassou os casos ao Vaticano. Um dos acusados já não exercia funções por questões de saúde, e o outro foi afastado preventivamente. A diocese peruana nega qualquer omissão, afirmando que Prevost seguiu corretamente os protocolos canônicos. O Vaticano ainda apura o caso, sem conclusão até o momento.

De perfil discreto, com fala serena e avesso à exposição pública, Prevost é visto como um continuador da linha reformista do Papa Francisco. Antes de ser eleito, ocupava dois dos cargos mais estratégicos da Cúria Romana: era prefeito do Dicastério para os Bispos — responsável pela nomeação episcopal em todo o mundo — e presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina.

Entrou na vida religiosa aos 22 anos e se formou em teologia na União Teológica Católica de Chicago. Aos 27, foi enviado a Roma para estudar direito canônico na Universidade de São Tomás de Aquino. Foi ordenado sacerdote em 1982 e, dois anos depois, iniciou seu trabalho missionário no Peru, enfrentando inclusive os anos sombrios do governo de Alberto Fujimori. Na época, cobrou publicamente que o Estado pedisse desculpas pelas injustiças cometidas.

Em 2014, foi nomeado administrador da Diocese de Chiclayo, onde permaneceu por nove anos e foi ordenado bispo. Em 2023, foi elevado ao posto de cardeal — título que ocupou por menos de dois anos antes de sua eleição como papa, algo raro na história recente da Igreja.

Prevost também ganhou visibilidade internacional ao conduzir uma oração pública no Vaticano durante um momento delicado de saúde do Papa Francisco, reforçando seu papel de liderança espiritual.

Como foi o conclave

O conclave começou na quarta-feira (7), reunindo 133 cardeais eleitores de diversas partes do mundo — incluindo sete brasileiros. A primeira votação, realizada ainda na quarta à tarde, terminou sem consenso, e a fumaça preta indicou a continuidade do processo.

O impasse se manteve após a segunda e terceira rodadas de votação, já na manhã desta quinta-feira. A decisão final veio na quarta votação, pouco depois das 13h (horário de Brasília), quando a tão aguardada fumaça branca apareceu nos céus do Vaticano, confirmando ao mundo a eleição do novo pontífice.

Agora, sob o nome de Leão XIV, Robert Prevost assume a missão de guiar a Igreja Católica diante dos desafios contemporâneos — entre eles, a necessidade de renovação, a transparência nos casos de abusos e a reconexão com fiéis em tempos de mudança.