O filme “E a Nave vai”, do Teatro Inominável, faz sua última sessão, neste sábado
- Rodrigo Carvalho
- 2 de jun. de 2021
- 4 min de leitura

Primeira realização audiovisual do Teatro Inominável, “E a Nave vai” terá sua última exibição neste sábado (05/06), às 19h, com legendas em português, no canal do YouTube do grupo (https://youtube.com/TeatroInominável). Com dramaturgia e direção de Diogo Liberano, o filme reflete sobre o descontrole que temos diante de uma paixão. O filósofo Spinoza chama de servidão essa impotência humana para regular e refrear os afetos. Nesse estado de apaixonamento, quem já não se viu tomando atitudes inusitadas ou mesmo nada saudáveis? Até que ponto é possível domar um afeto e tomar a melhor decisão para si mesmo? São esses questionamentos que acompanham a história entre Mocinho e Gatão, que se conhecem e querem estar juntos, mas não pelos mesmos motivos. O projeto tem patrocínio do Governo Federal, Governo do Estado do Rio de Janeiro e Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Aldir Blanc.
A primeira encenação teatral de “E a Nave vai” estreou em 2019, na Itália, e foi apresentada em diversas cidades italianas e em Buenos Aires, Argentina. No Brasil, o projeto seria fazer uma temporada presencial em teatros cariocas este ano, mas devido a impossibilidade imposta pela pandemia, o Teatro Inominável optou por compor uma versão audiovisual centrada no problema que se estabelece entre Mocinho e Gatão diante de um encontro marcado por pulsões divergentes. O ator Márcio Machado interpreta Gatão, um homem de quarenta e poucos anos com medo do passado, enquanto Gunnar Borges interpreta Mocinho, um homem com trinta e poucos anos com medo do futuro. Entre eles, porém, há um terceiro personagem interpretado por Andrêas Gato: a Nave, um automóvel com espaço interior para apenas duas pessoas e que, muitas vezes, parece enxergar aquilo que os outros dois não percebem.
A trama de “E a Nave vai” foi inspirada numa história vivida pelo dramaturgo e diretor Diogo Liberano, porém, remodelada poeticamente visando abrir aos espectadores indagações sobre como podemos – ou não – lidar com afetos tão fortes como, por exemplo, aqueles provocados por um apaixonamento. Para a dramaturgista do projeto, Thaís Barros, “foi importante ultrapassarmos o teor biográfico da história para focar no que acontecia entre os personagens. Como dramaturgista, busquei trazer contrapontos para aquilo que os atores e o diretor traziam para o processo criativo.” Nesta nova criação, também o primeiro trabalho audiovisual do Inominável, o desejo é o de apresentar um problema para que, a partir dele, cada espectador(a) possa fazer suas próprias conexões e indagar aquilo que lhe parecer importante. “Queremos que as pessoas se identifiquem, que pensem nas maneiras como os seres humanos se relacionam uns com os outros, e como nos machucamos. A gente confia na sensibilidade do espectador para completar uma história que intencionalmente não se mostra em sua completude”, comenta o diretor.
Todos os ensaios foram realizados pelo Zoom e a equipe só se encontrou durante os três dias de filmagem. “Era importante que a gente conseguisse transmitir todas aquelas emoções pelo Zoom, que a cena acontecesse mesmo que as possibilidades de criações do corpo estivessem limitadas”, lembra o ator Gunnar Borges. “Quando a gente se encontrou ao vivo para filmar foi um desafio, já que a gente ainda não havia contracenado presencialmente, mas já tínhamos estabelecido uma troca bem intensa de afetos nesse período. Então, foi também bastante prazeroso”, acrescenta Márcio Machado. Para o Andrêas Gatto, o mais interessante em interpretar a Nave foi “saber que, durante a ação, eu e o cenário nos confundíamos: eu, a poltrona, o vidro, o retrovisor e a jaqueta éramos a mesma coisa. Foi preciso falar, gesticular, agir, mas também dar espaço para que todos os outros elementos fizessem o mesmo”.
O maior desafio do trabalho foi a criação de uma linguagem nova, que mescla teatro e cinema e que resultou de uma parceria entre diretor, atores e os outros integrantes da equipe criativa, formada por Thaís Barros (dramaturgismo), Felipe Quintelas (direção de fotografia), Fabio de Souza e Luiz Wachelke (direção de arte e figurino), Renato Garcia (som direto), Phil Baptiste e Elisio Freitas (trilha sonora original) e Pedro Capello (edição e finalização). “O mais importante para a gente foi pensar em como a linguagem audiovisual recebe a poeticidade do jogo teatral, e não apenas mostrar, de maneira realista ou literal, aquilo que é contado. Apesar de ser um diretor de teatro, o pensamento e o estudo sobre cinema, sempre fizeram parte da minha trajetória e das minhas pesquisas. Então, agora tive oportunidade de explorar caminhos que já tinha vontade e construir um filme que apresenta outra intensidade no trabalho de atuação e um tempo diferente do teatro”, analisa Liberano.
“E a Nave vai” surgiu, originalmente, como uma dramaturgia criada por Diogo Liberano durante o projeto internacional BeyondtheSUD (BETSUD), voltado à criação de dramaturgos e diretores teatrais com idade inferior a 35 anos e que, no Brasil, contou com parceria do Complexo Duplo, Complexo Sul e Festival Cena Brasil Internacional.
Serviço:
E a Nave vai
Sessão especial, com legendas em português: sábado, 05/06, às 19h.
Ingressos: gratuitos. Exibição pelo canal do Teatro Inominável no YouTube (https://youtube.com/TeatroInominável)
Tempo de duração: 45 minutos
Classificação etária: 14 anos
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