Última semana para visitar Sob os Pés do Mundo no Museu Nacional de Brasília
- Rodrigo Carvalho
- há 1 hora
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A exposição Sob os Pés do Mundo: uma experiência sensorial em Brasília entra em sua última semana. A mostra segue aberta ao público até o dia 7 de setembro, na Galeria 2 do Museu Nacional de Brasília, integrando a programação do Festival Mês da Fotografia (FMF). Para marcar essa reta final, em 5 de setembro, a exposição receberá a visita de estudantes do Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV) — 20 alunos no turno matutino, incluindo um cadeirante, e 12 crianças no período vespertino, sendo quatro cadeirantes.
Transformando vivências urbanas de pessoas com deficiência visual em obras acessíveis, a exposição, que conta com produção executiva de Carol Peres, apresenta 17 obras táteis criadas a partir das texturas das calçadas e das sensações despertadas por percursos rotineiros. Com títulos em Braille, audiodescrição, letras ampliadas e paisagens sonoras, o visitante é convidado a experimentar a cidade de uma forma diferente — olhando com as mãos, fechando os olhos para escutar os ambientes e permitindo-se vivenciar o espaço urbano de outro modo.
Idealizado pelo artista visual e sociólogo Flavio Marzadro, o projeto Arte no Espaço Público x Arte como Espaço Público: Arte e Inclusão Social nasceu de um processo artístico profundamente colaborativo. Oficinas sensoriais e vivências urbanas em diferentes regiões do Distrito Federal reuniram pessoas cegas e com baixa visão como coautoras das obras, ao lado do idealizador. Juntos, transformaram o toque em linguagem e a memória em matéria-prima, moldando trajetos cotidianos em arte.
As oficinas aconteceram no Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais e na Biblioteca Braille Dorina Nowill. Mais do que momentos de formação, esses encontros se tornaram um verdadeiro laboratório coletivo de criação e escuta. As vivências urbanas foram realizadas na Asa Sul, Asa Norte, Planaltina e Sobradinho, com percursos sugeridos por quatro participantes: Gilfrank Pimentel, Manoel de Jesus Vieira, Aparecida Machado e Sheila Guimarães. Esses trajetos, registrados em áudio, vídeo e georreferenciamento, deram origem a moldes que contam histórias.
Ao todo, são 17 quadros táteis de diferentes dimensões — entre eles, um painel de 130x90 cm — que retratam lugares percorridos e sentidos durante o projeto. Detalhe: as obras de arte estão disponíveis para o toque de todos os visitantes, num convite direto à empatia e à experimentação sensorial.
A experiência propõe uma escuta tátil, um olhar com as mãos e uma redescoberta da cidade por meio do corpo. Mais do que uma mostra, é um gesto poético e político em defesa de espaços inclusivos e compartilhados. A exposição também se apresenta como um convite à reflexão sobre a forma e a usabilidade das cidades: a quem elas se destinam, como são projetadas e que corpos de fato acolhem. Ao trazer o urbanismo para o centro da discussão, a mostra questiona as lógicas excludentes que marcam o espaço urbano e sugere outras maneiras de imaginar e viver a cidade.
Visitas especiais
Além da mostra, a programação incluiu vivências especialmente voltadas à comunidade com deficiência visual. Em 5 de agosto, na abertura oficial, um vernissage acessível reuniu participantes das oficinas e frequentadores da Biblioteca Braille de Taguatinga em uma celebração íntima que contou com apoio logístico para garantir o acesso de todos. Já no dia 9 de agosto, a ação “Troca-Troca”, conduzida pela Cia Teatro no Escuro, convidou o público a experimentar a inversão de papéis entre pessoas cegas e videntes, em uma caminhada coletiva dentro e fora do museu. No mesmo dia, duas oficinas realizadas na sede da Sociedade Bíblica do Brasil ampliaram os espaços de escuta e criação, reforçando a proposta de empatia e participação ativa que permeia todo o projeto. Para fechar, em 5 de setembro, a exposição receberá a visita de 20 alunos do CEEDV nos turnos matutino e vespertino.
Sobre o projeto
Arte no Espaço Público x Arte como Espaço Público: Arte e Inclusão Social é o desdobramento mais recente da pesquisa de Flavio Marzadro, que há mais de uma década investiga as relações entre arte, cidade, corpo e inclusão. Combinando oficinas sensoriais, registros georreferenciados e técnicas inovadoras de decalque em silicone, o projeto questiona quem pode produzir arte e a partir de quais territórios.
A iniciativa nasceu em diálogo com pessoas cegas e de baixa visão do Distrito Federal, que atuaram como protagonistas ao compartilhar memórias e escolher os caminhos a serem moldados. Assim, calçadas, afetos e gestos cotidianos se transformam em matéria artística, rompendo hierarquias estéticas que historicamente excluíram experiências e corpos da cena cultural dominante.
O projeto também dialoga com experiências anteriores de Marzadro, como Borboletando – Arte Inclusiva, Arte do Amor, realizado em parceria com Geusa Joseph, que mobilizou centenas de pessoas com deficiência na criação de uma escultura coletiva em cerâmica exibida no Museu de Arte de Brasília.
Realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, o projeto conta com o apoio institucional do Museu Nacional da República, do CEEDV e da Biblioteca Braille Dorina Nowill.
Sobre o Festival Mês da Fotografia
O Festival Mês da Fotografia — agora oficialmente FMF — realiza uma edição especial em 2025. Com o tema “O que Vemos Quando Escutamos”, o evento reúne quatro exposições que atravessam os campos da inclusão, da ancestralidade e da criação poética. Além da mostra “Nada Sobre Nós Sem Nós!”, do projeto Vivências Inclusivas, idealizado por Juliana Peres, que oferece experiências acessíveis unindo arte, empoderamento e consciência ambiental, o FMF conta ainda com as mostras “Sob os Pés do Mundo: uma experiência sensorial em Brasília”, de Flavio Marzadro, trazendo a deficiência como potência estética e sensível, “Sons da Terra: Começo, Meio e Começo”, do Ògan Assogbá Luiz Alves, e “Nego Fugido”, do fotógrafo franco-italiano Nicola Lo Calzo. Ambas mergulham nas tradições afro-brasileiras, reencenando memórias, gestos e territórios ancestrais, propondo novas formas de escuta e percepção visual.
Serviço:
Exposição
Sob os Pés do Mundo: uma experiência sensorial em Brasília
Data: de 05/08 a 07/09
Horário de visitação: de terça a domingo, das 9h às 17h
Horário: das 14 às 16h
Local: Galeria 2 - Térreo do Museu da República
Entrada Franca